Os Ciclos Históricos da Fome - Origens Arqueológicas e Antropológicas da Culinária Mediterrânea

 

Origens Arqueológicas e Antropológicas da Culinária Mediterrânea 


Vamos voltar no tempo...

Vamos há 13.000 anos atrás! Antes da formação da Civilização Humana exatamente no final da última Grande Era Glacial e do grande degelo da Terra que permitiu; mesmo após um grande cataclismo e morte de milhares (ou milhões conforme a Teoria Cientifica defendida...) de humanos e animais e que os sobreviventes pudessem ou tivessem deslocando-se pelos continentes e oceanos criando as Primeiras Civilizações Humanas. ( Na verdade assim fizeram, mas ainda as teorias divergem muito!)

A Civilização Humana Primitiva com os primeiros processos de colheita e plantio e a cria de animais domesticados permitiram, aos humanos nômades e viventes, daquela época conseguir transformar a sua
dieta* de caça e a procura do alimento de subsistência para uma dieta dividida em refeições diárias equilibradas com os ingredientes obtidos conforme sua época e sua sazonalidade (Agricultura de Extração) ou de região de plantio, cultivo, colheita, manejo e armazenamento (Agricultura de Exploração). 
Esta procura e a necessidade do homem fixar-se a um só local de moradia e vida em comum trouxeram não somente a necessidade do alimento para subsistir, mas também a ciência de que além das necessidades primárias, os alimentos em forma de refeição traziam consigo a União, a Felicidade, O Prazer, o Culto, o Convívio mutuo e a Satisfação entre pares. Além de que sua produção e posteriormente seu excedente tornam–se moedas e riquezas para troca e para o Comércio, conforme observaremos aqui.

Nas próximas páginas vamos mostrar como essa Sociedade Primitiva que nasceu nas regiões da Planície de Anatólia – Sul da Turquia e a Crescente Fértil – Mesopotâmia ( em grego “Terra Entre os Rios” que são o Tigres e o Eufrates – No Iraque – Influenciaram a Cultura Ocidental e sua Culinária.

Os Ciclos Históricos da Fome e o Desenvolvimento Intelectual, Social, Tecnológico e Gastronômico das Sociedades Primitivas.

Como surgiu a Civilização Ocidental e de que forma a Civilização Humana se alimentou depois do fim da Era do Gelo até hoje?

E quais foram os passos de Evolução para a obtenção e transformação do alimento em refeição até os primeiros núcleos da Civilização Antiga?

                                 


Nesta fase do homo sapiens para o homem moderno e mais tarde o homem civilizado, as tarefas únicas eram a caça, a pesca e a procura do alimento. Independente da sociedade ou bando a primeira tarefa do homem era o de se alimentar e muito antes de se proteger ou morar em locais protegidos (cavernas), aos quais ainda nãe se sabe ao certo quando e porquê! Seus modos de vida e formas de interpretar e sobreviver eram ainda muito rudimentares e subdesenvolvidas e não seria possível, naquele momento da História,  o pensamento crítico e científico começar por outra forma se não fosse pela procura e pela obtenção da subsistência, no caso, O Alimento!

Assim sendo, a primeira relação que o homem teve entre suas funções instintivas e desenvolver seu intelecto e o pensamento criativo foi o Alimento.  A preocupação de sobreviver e a necessidade de se alimentar fizeram com que este ser primitivo, que antes usava apenas seus membros como forma de execução e locomoção, começasse a usar instrumentos para caçar e para se alimentar, por isso  a necessidade de fabricar estes instrumentos como galhos com pontas e posteriormente com pedras e ossos lascados. 
Por isso o nome – Idade da Pedra Lascada - Como também, ossos e outros materiais necessários a sua sobrevivência e de também começar ali a caçar em bandos e não mais individualmente. São esses bandos que iniciaram as populações, a sociedade mútua, as relações familiares e posteriormente as civilizações.


OS CICLOS HISTÓRICOS DA FOME

 

O que são e quais seus conceitos em relação à formação da novas Sociedades e Futuras Civilizações Humanas?

Imagine que a Humanidade e seus primeiros bandos de caçadores nômades começaram a vagar pela Terra, como já disse, a procura de um novo habitat. Este salto ao desconhecido ou esta aventura durou milhares de anos e que estas sociedades nativas, que falei do advento da História da Terra, chegassem a um Local e consumissem todos os recursos naturais de subsistência, e a Fome começasse a ser uma realidade e assim, o êxodo passa a ser necessário à aquela sociedade. A partir daí do seu próprio declínio e abandono seria o nascimento de um novo campo fértil, pois os dejetos ali deixados como fezes, sementes consumidas digeridas e eliminadas, carcaças e ossos, talvez a própria vegetação nativa destruída que ali ficou em cima ou debaixo daquela terra, se descompôs com a ajuda da Natureza, formando depois de milhares de anos um campo com plantas comestíveis e com grãos e gramíneas próprias para a alimentação, como campos e pastos propícios à Agricultura e a Pecuária, fazendo dali um novo local de sobrevivência, a isto que denomino os Ciclos Históricos da Fome.

Apenas pretendo provar que os Ciclos Históricos da Fome realmente existiram e que podem ser uma futura ameaça. Que não foram concebidos somente pela Humanidade, mas também, por uma seleção natural que, de regra, contribuiu para parte da conservação da Biodiversidade, isto é, no seu momento de ciclo conseguiu transformar e melhorar habitats e a consciência de muitas Civilizações extintas ou existentes, pois através da Fome, da busca do alimento e do controle do seu desperdício e do sofrimento, as mesmas encontraram novas receitas e soluções através de novas tecnologias e assim formando novas e melhores sociedades.

Nos Grandes Ciclos Históricos da Fome houve uma grande movimentação dos bandos e das sociedades primitivas pelo mundo procurando novos locais para sua sobrevivência e fizeram, através de sua história,  nascer nas sociedades antigas às classes dos dominantes e dos dominados, as correlações sociais, as castas e classes, as Ciências Físicas, Médicas e Sociais, a Língua (Idioma), a Escrita, a Cultura e seus conflitos e o extermínio de sociedades inteiras criando as maiores catástrofes da Humanidade. Assim nasceu na História da Humanidade o tráfico de influência, a obtenção de poder através do julgo (Escravidão) e a opressão através da extorsão, os crimes, as guerras por comida, por poder e muito mais, pois aquele que sentia fome e medo era escravizado. Como também fizeram, através da procura de novos habitats e de comida, nascerem novas civilizações nos “novos” continentes.

Quando falo da Fome não é só um sentido, uma necessidade ou apenas a ausência do alimento e sim uma cessão ou concessão da Vida, pois aquele que tem fome cede seu poder e sua vida a aquele que o alimenta, ou a própria Natureza. O Homem aprendeu através das Eras dominar seu habitat em que se encontrava tornando-se em algum deles o topo da cadeia alimentar, deixando de ser o alimento ou a caça pra ser o caçador.

Por definição os Ciclos Históricos da Fome são o conjunto de fatores climáticos, biológicos, geográficos científicos, culturais, políticos e socioeconômicos que os provocaram e de como, através da resiliência humana, em contorna-los.

Outra coisa que quero confrontar é: Quais os fatores que provocaram este fenômeno e se existe a possibilidade de que todas essas datas coincidirem com as novas descobertas e das novas Tecnologias ali primitivamente sacramentadas, através da obtenção de informações da Antropologia e da Arqueologia Moderna e de como surgiram estes “starts” que configuraram os “Saltos do Pensamento Humano” e como se inter-relacionam com o advento do pensamento técnico e da Inteligência humana e por consequência o desenvolvimento da Gastronomia no Mundo Antigo.

 

Os Medos da Morte e do Desconhecido formaram também o pensamento metafísico do homem, a necessidade da religião, dos cultos, dos dogmas e dos enigmas inexplicáveis fisicamente, porém o medo da Fome formou o pensamento lógico e físico.

A Fome e a escassez, no advento das sociedades humanas, faziam de grandes manadas e outros coletivos animais (o que engloba os humanos), nômades a procura de alimento, água e sal. Esta procura com o passar dos anos se tornou mais escassa e longínqua e criava a necessidade de um deslocamento maior e mais distante, mais rápido e uma maior união e o auxílio entre essas sociedades ali sacramentadas, pois além do aumento da manada que era gradativo e vegetativo, existia o medo da sobrevivência coletiva. 

Em espécies que não eram humanas a Ciência dá o nome deste desejo de sobreviver de “Instinto”, mas em humanos e suas sociedades, A Ciência deu o nome de “Pensamento” e foi dessa forma que nós humanos começamos a nos diferenciar de outros animais.

Antes do advento da Fome acontecer em um espaço ou região existiu sempre o começo da escassez e devido a esses medos relacionados à falta de alimento, o pensamento ou o instinto provocaram tantos em seres humanos quantos em outros animais à necessidade do controle do desperdício, técnicas de conservação e a procura de uma nova dieta pela baixa oferta de alimentos e desta forma os primitivos humanos começaram a traçar e formar seus ciclos de vida em comum.

A Diferença do Pensamento e do Instinto é de que as sobrevivências de ambos diferem pela necessidade lógica de sobreviver e da necessidade básica de sobreviver, sinal que os humanos já nasciam com o pensamento físico de que a necessidade lógica precisava mais do que a Natureza provia, isto é, não era suficiente e que a escassez de recursos seria algo inevitável. E da mesma forma a criação do pensamento metafísico era a forma do ser humano poder sentir que algo a mais existia e que pudesse protegê-lo, se assim ele o contemplasse e o adorasse! E o alimento e a sua obtenção foram o principal motivo para isso. 

Tenho uma certeza e procuro explicar neste post que o Pensamento Físico, Metafísico e Religioso já eram inerente à raça humana antes mesmo de o homem começar a interpretar as estrelas para não se perderem no caminho, ou produzir o Fogo para se aquecer e se proteger ou cozinhar ou de inventar a Roda e da Tração proporcionado por animais quadrupedes, que são os primeiros “Big Bang” do Pensamento Humano - Não exatamente nesta ordem!, O Homem Moderno já possuía uma consciência coletiva de sobrevivência e de interpretação do seu meio!

Conforme mostrarei aqui a transformação humana entre um ser instintivo e um ser pensante ocorreu em grande parte pela necessidade de se alimentar, proteger-se e sobreviver! 

O Homem se tornou inteligente ao Cozinhar!


Os Big Ben’s da Civilização Humana e O Sal


Quando falamos dos Grandes Saltos de Pensamento ou Tecnológicos da História Humana na Terra destacamos sempre:

-          A descoberta do Fogo

-          A Pedra lascada (instrumentos de defesa e de manutenção)

-          A Cerâmica de Terracota

-          A invenção da Roda.

-          A Agricultura e a Pecuária (rudimentar – Domínio dos grãos e animais selvagens)

-          A descoberta da Tração Animal como deslocamento e instrumento de força

-          A Escrita e os Idiomas

-          O domínio dos Metais (Era do Bronze e a Era do Ferro)

Porém existe um Salto que muitos autores esquecem de mencionar e que para nós cozinheiros é de suma importância – O Sal!

O humano e suas sociedades no advento de suas Civilizações mudaram suas características, culturas e caminhos na procura pelo Sal.

Há 3 milhões de anos as chuvas dissolveram o sal formados pelas grandes erupções vulcânicas e foram ao encontro das águas dos primeiros mares do Globo terrestre, com o passar dos anos e evaporação desses mares surgiram grandes depósitos de sal nas terras secas o qual chamamos de “Sal da terra”.  Todas as cidades criadas durante a Civilização Antiga foram construídas não somente perto das fontes de água, mas também das de sal, ele conectou os povos do mundo e a sua procura fomentou todos os caminhos e estradas da Antiguidade fazendo com que as culturas se miscigenassem e criassem as Grande Civilizações e as Grandes Nações do Mundo Antigo;

Para não alongarmos muito sobre este assunto deixarei o link aqui... A História do Sal


A Descoberta e o Domínio do Fogo


Quando o homem finalmente dominou o fogo vindo do céu – Raios – ou por combustão espontânea aprendeu também que aquele fenômeno traria para sua vida mais comodidade e benefícios, através dele o homem pôde se aquecer em locais frios, iluminar seu habitat, cozer sua refeição, usá-lo como arma e intimidação e com o tempo moldar suas ferramentas, armas, utensílios, sua infraestrutura e como não dizer seu Destino!  O que nos interessa aqui não é sua Origem ou como foi dominado, mas como e porque o Fogo auxiliou todos os outros Saltos de Pensamento do Ser Humano – O homem descobriu que com o fogo era mais fácil quebrar pedras, derreter metais e seivas naturais, cozinhar alimentos para sua melhor digestão e absorção, cozinhar o barro moldado e fazer cerâmica ou hieróglifos que contavam uma história, isto é, extraindo todos os elementos de um componente e moldando-os à sua necessidade.


A Roda...


Não se sabe exatamente quando o homem moderno descobriu a Roda, muitas fontes divergem em épocas e conceitos...Pra mim pessoalmente e pelos achados arqueológicos acredito que tenha sido criada na Suméria há mais de 6000 anos atrás, porém enquanto não se conhece bem o fato do antes destes povos, fico com essa definição! 

Quando falamos em “Roda” não estamos discutindo apenas tempo ou espaço de sua criação e sim um novo vetor de força e tração - A Força Centrípeta ou Cíclica - Descoberto pela Humanidade, fato este que mostra como os humanos controlavam a natureza em benefício de seu desenvolvimento. Alguns dizem 10.000 anos outros 5.000 anos e que mudou completamente as Sociedades ali estabelecidas. 

A Força Cíclica ou Centrípeta puxou pedras, marcos, pêndulos, carroças, moinhos, estabeleceu e diminui tempos, criou medidas, gabaritos, caminhos, armas e um mundo de novas tecnologias...através dela outras forças e vetores foram descobertos como a Hidrodinâmica e a Hidráulica!

As sociedades antigas que possuíam estas tecnologias se tornaram as maiores e com melhores níveis de vida e também, as mais temidas e opressoras de sua época...Isto mostra quando falo que a retenção da informação e da tecnologia formam grandes potências, como acontece nos dias de hoje.

 

O NASCIMENTO DA AGRICULTURA E DA PECUÁRIA


A Agricultura antiga surgiu pela necessidade das Sociedades, que deixaram de ser nômades e viraram sedentárias, de suprir seus alimentos devido ao seu sustento a longo prazo e de seu crescimento vegetativo, mais indivíduos, mais bocas para alimentar, assim o Homem Moderno começou a dominar grãos nativos aprendendo a cruzá-los e replantá-los em maior quantidade. Aprendeu também a dominar e domesticar animais selvagens para o suprimento da carne, do leite e da pele e da lã para seu vestuário (Tecnologia rudimentar que já existia desde os primórdios da Humanidade, para se proteger do frio e dos intemperes do Clima), assim nascendo a Pecuária e seus manejos de solo e de criações. Os primeiros assentamentos humanos decorrem exatamente como já falei da região da Planície da Anatólia, hoje pertencente ao Território Turco e da Crescente Fértil aonde nascem os Rios Tigres e Eufrates, hoje pertencentes ao território do Iraque, aos quais deram início as primeiras civilizações como a Suméria, os Hititas, a Mesopotâmia e muitos outros. Esses rios se alimentaram do degelo das montanhas do Afeganistão, Norte da Turquia e da Armênia descendo em direção ao Golfo Pérsico.

Com o degelo da Era do Gelo e a água procurando os litorais e mares, isto é, o relevo entre a montanha e o mar durante os próximos milênios, criaram planícies inundadas que posteriormente se transformariam em terrenos férteis para a obtenção do alimento. O que se sabe é que tribos nômades oriundas do Norte da África da Europa e sudeste da Ásia à procura de clima mais ameno e quente chegaram nesta região e dominaram os grãos, os animais e frutos nativos replantando-os, criando-os e desenvolvendo métodos e manejo para sua perpetuação e sustento fazendo com que a necessidade de migração ou deslocamento não ser mais necessária e assim, conservar este habitat e ali se desenvolverem. E são nessas regiões que começam a ser criadas as Grandes Civilizações Humanas. 





A Relação dos Alimentos com a Escrita e da 

Formação de 
Idiomas no Mundo Antigo

 

Outra coisa surpreendente desta relação entre Sobrevivência e Desenvolvimento é como isso influenciou os idiomas do Mundo Antigo. Quando comemos, o cérebro conceitua os cheiros como padrões espaciais e, a partir desses sentidos e junto com o palato e a língua, constroem as percepções de sabor. O Palato é tão responsável ou até mais que a língua, em relação ao sabor e as suas percepções. A ingestão de alimento, e os cheiros retro nasais (formados no Palato) envolvidos no Sabor, ocorrem através da boca, o mesmo orifício usado na produção de idioma e que chegamos em outra indagação...

Qual é sua correlação...? 

Alimentos e linguagem não são apenas vizinhos próximos, neste sentido, eles ocupam a mesma casa - a Nossa Boca, Nosso Palato e Nosso Nariz! Outras razões para uma estreita ligação entre cheiros, gostos, sabores e linguagem são, em primeiro lugar, a forte ligação evolutiva entre o aumento da necessidade da cozinha em obter novas receitas e obter novas denominações e da elevação da linguagem no contexto mundial das culturas e, segundo a própria Linguística, os vocabulários, extraordinariamente se desenvolveram por sabores.  Desde os primeiros documentos da História, é óbvio que os alimentos e a sua preparação têm sido altas prioridades das sociedades humanas, foi a partir destes momentos em que as cozinhas tradicionais de todo o mundo surgiram...
Ao examinar um pouco da História desses tempos, a partir da perspectiva do sentido do olfato e do seu papel no sabor dos alimentos, fico impressionado com a riqueza das cozinhas e da riqueza associada aos vocabulários desta cozinha, para cada novo sabor encontrado era necessário criar uma nova palavra.

A ideia intrigante é que todo o vocabulário, com sua sintaxe e gramática para comunicar, refletem a tentativa por parte dos seres humanos em descrever seu mundo de cheiro e sabor com palavras. Da mesma forma o cérebro e suas inúmeras formas de expressar o sentimento e analisar os sabores, influenciam na composição físico-química do que é ingerido, podendo transformar um nutriente importante em um veneno e vice-versa e a palavra criada por esse sabor, sendo uma linguagem interpretada positiva ou negativamente, podem também influenciar a saúde do organismo da mesma forma. Isso impulsionou a Escrita e a forma de imprimi-las e arquivá-las (O advento das primeiras bibliotecas), porém muito antes quando o homem não lia ou escreviam, os membros mais experientes de uma tribo (sociedade) detinham a sabedoria da Cura, da Caça, da Pesca e da transformação do Alimento e isso foi o limiar da construção das classes nas sociedades primitivas, aquele que detinha a informação era considerado de alguma forma mais importante e na sua maioria a Mulher mais velha, ou a “Grande Mãe” era a guru, a xamã, a chefe, a médica, a curandeira e a Guardiã desses segredos.

 Sei que até hoje existem pessoas que cozinham sem ler ou escrever (Na sua grande maioria, famintas por aprender!) guardam através do pensamento suas técnicas e não estou falando somente da Pré-História, mas também das Cozinhas Profissionais do Século XXI, mas o mesmo acontecia em uma Era tão antiga e manufaturar quanto a Pré-História. Com certeza a necessidade de diversificar uma conversação e ou uma prática para mantê-las e serem passadas às novas gerações era necessário algum registro, mesmo que fosse apenas uma forma como as sociedades primitivas passavam seus valores e conhecimento e assim antes de uma Escrita cuneiforme ou hieroglífica, os humanos primitivos usavam desenhos que interpretavam seu proceder. 

Somos humanos e mamíferos e assim, nossas mães eram e são nossas primeiras fontes de alimento, começando na placenta e terminando, no caso dos primeiros humanos, até a idade de podermos caçar nosso próprio alimento orientado por nossas mães e como no caso de manadas mamíferas não humanas, aonde assim acontece até hoje... Os meios de produção agrícola, rebanhos e a infraestrutura para isso, desde a plantação, a colheita, o manejo, o manuseio e a manufatura do alimento influenciaram e transformaram o instinto em pensamento. Contudo alguns povos interdependiam desta relação de forma mais primitiva e outros de forma mais tecnológica, o porquê ainda não sabemos, porém estudos modernos nos dão conta que o homem se desenvolveu intelectualmente e tecnologicamente conforme sua dieta e sua culinária, o ato de cozinhar seu alimento nos transformou em humanos pensantes e acredito sim que este é nosso Elo Perdido!

O Homem sentia fome, não a Fome Estrutural Catastrófica, mas a fome comum, a vontade de comer.  Os grandes deslocamentos humanos, nos famosos Êxodos do fim da Era do Gelo e das Diásporas, que começaram há aproximadamente 13.000 anos, a maior preocupação era que durante este tempo desta procura por outro habitat, a “sociedade humana primitiva” ali sacramentada poderia sobreviver ou por laços sanguíneos ou por laços de espécie, isso provocou a exploração de novas terras e novos habitats.  Ao chegar neste novo local esta nova sociedade encontraria novos alimentos que precisariam de “nomes” e um estudo para serem identificadas e novas práticas para cozinha-los, isto é, novos fonemas necessários à formação dessa nova língua ou idioma e também se as mesmas poderiam, por exemplo, identificar suas propriedades organolépticas e assim ao identifica-las e descreve-las, evitaria uma morte ou uma doença, tudo isso deveria ser nominado e escrito para poder ser identificado ou manipulados, não é mesmo?

Muitos registros encontrados nos últimos 5 anos já indicam que a Civilização Ocidental que é a que estamos tratando, pois a Oriental não é meu objetivo de estudo mas influenciou em muito a ocidental, já caminhavam para a Civilização e para o estrutura de Sociedades como a construção de Bibliotecas, cemitérios, templos, escolas, prédios  de uso público, habitações individuais e coletivas, estradas, ruas e caminhos pavimentados e as Instituições.

Organizacionais como Poderes Executivos, Legislativos e Judiciários muito rudimentares aonde o Poder absoluto do rei, ou Imperador abraçava todas essas instituições a partir da sua Lei Magna (o primórdio da Constituição ou o conjunto de leis). Como no caso do Código de Hamurabi na Mesopotâmia.

Devemos analisar que a 3.000 a.C. o ser humano era ainda muito primitivo, porém mais evoluído nas Cidades-estados. Muitas Sociedades daquela época eram ainda muito rudimentares em muitos locais da Eurásia (Europa e Ásia Ocidental) e por isso suas interpretações e relações entre si e com a Natureza ainda baseavam-se em religiões primitivas ligadas ao Tempo e Condição de Climas, o Relevo, os Acidentes geográficos, a Cultura e o Folclore, que foram herdados dos primitivos descendentes daquela Sociedade em crescimento e expansão, a qual como já relatei foram os primeiros humanos a evoluir de um caçador/coletor para um cidadão com função específica e colaborador dessa evolução do seu meio, cultura e sociedade.

A Arte Culinária sempre foi fruto da civilização antiga e moderna. As nações civilizadas, mesmo na Antiguidade, Egito, Grécia, Etrúria e Roma determinavam seus poderes por suntuosos banquetes.  

As cozinhas que sempre se impuseram na Europa e no resto do Ocidente, como da França e da Itália formaram as modernas técnicas de cozinha, o que não é de se estranhar, pois foram focos da civilização e cultura ocidentais.

A Arte Culinária é diretamente proporcional ao sucesso daquela Civilização! Os grandes e famosos Impérios do Mundo Antigo tinham em comum uma Gastronomia muito bem desenvolvida!



Não vamos nos aprofundar muito na História da Civilização Humana, por completo!

Falaremos sobre o desenvolvimento das primeiras Sociedades nascidas na Crescente Fértil (Vale da Mesopotâmia no Iraque e Planície de Anatólia na Turquia) e dos povos que se desenvolveram em torno do Mar Mediterrâneo durante e depois das Eras do Bronze (Cobre e Latão), do Ferro e que constituíram as primeiras cidades-estados entre 4700 a.C. a  3000 a.C., aonde haviam sociedades consolidadas e organizadas que se sobrepujaram umas às outras deixando seu legado cultural, artístico, tecnológico e gastronômico em relação as diversas civilizações que se sucederam às que foram banidas, destruídas incorporadas ou extintas... e de como influenciaram as que ficaram até os dias de hoje!  

Quem são eles?

De onde vieram?

O que plantavam, produziam, colhiam e comiam e qual eram suas formas de cocção?

Por que o Mar Mediterrâneo foi tão importante e influenciou esta Dieta?

E de que forma suas influências fazem parte dessa rica e monumental História viva até hoje em nosso cotidiano e porque são tão importantes para compreendermos a Dieta e a Culinária Mediterrânea e para a Civilização Ocidental como um todo!

Nos próximos posts continuaremos com nossa História...sobre a Culinária Mediterrânea

Meu intuito aqui foi que você leitor que me acompanha entende-se o que e como, o Alimento desenvolveu nossas Sociedades e Civilização...através de uma temática antropológica e arqueológica...

 

Continuem acompanhando....

 Chef Paulinho Pecora


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